quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Que o saco tenha sido enorme, e vosso peru um escândalo! Fora isto, a maligna assessora manda torpedo desejando "feliz natal, noite não sei o que..." Torpedo básico de contra-ataque, nela: "menos, querida, menos....". Controlem a falsidade, dosem palavras vazias, porque restam os outros 364 dias para este tipo de gente aprontarem conosco e nossos semelhantes do bem. Desde quando espírito natalino é indulto para mau-caráter que ainda quer tirar uma casquinha de boa-moça no dia em que os corações estão moles? Pois sim. Lição básica: aproveitem esta hora em que eles pensam que colou a cara de pau, e devolvam com óleo de peroba poderosíssimo. Passarão a ceia arquitetando como vão se vingar, mas por enquanto, fui eu que fiz o ponto do Panetone, que deve valer por dez no jogo da vida. Muito franco, nunca fui santa (ui!).
Virando para o oposto: Dom Orani Tempesta estende a mão do diálogo, e pós-moderno e democrata, convida os sambistas para um sarau no Palácio São Joaquim, restaurado e lindo. Nas paredes, gigantescas pinturas com os índios semi-nus recebendo Martim Afonso de Souza e presenciando a primeira-missa rezada em terras cariocas. Tão inusitado quanto índios de tanga convivendo com batinas, era a nossa situação de mundanos bambas das escolas de samba, defronte da Santidade. Mas foi um encontro simpaticíssimo, só tremi na hora que ligaram aqueles ventiladores que ventam gotículas de água para todos os lados. "Padre, isso não vai prejudicar a restauração? Estou úmido....". Resposta: "escute, homem de Deus, o restaurador liberou....", me disse o seminarista. Pois entre obras de arte, cortinas e veludos, cantamos um sambinha religioso do novo disco do padre-cantor que gravou a gostosa música com o auxílio luxuoso de Diogo Nogueira. Foi quando Frei Paulo, adido Cultural, lembrou as relações seculares da igreja com a cultura popular, as artes clássicas, o mecenato. É verdade, não se conta a história da arte sem o Vaticano. Depois falou Dom Orani, que lembrou que em 2013 o Rio de Janeiro recebe os dois milhões de jovens católicos que vem aqui participar da Jornada da Juventude, mega evento de meninos e meninas do bem, que serão nossos futuros adultos. Adorei quando ele pediu sugestão sobre atividades possíveis para estes jovens, e imediatamente me lembrei que já fiz muitos shows em que as mulatas não podiam estar de minúsculos biquínis, era preciso saiote de baianinha (para o Encontro dos Generais dos exércitos das 3 Américas, ou para família suecas a bordo de transatlântico no Mar Báltico). Graças a Deus, sou um bom índio catequizado.




Lady Gaga e o prefeito de Nova York imitaram o beijo que Isabelita dos Patins tascou no presidente Fernando Henrique Cardoso no fim do século passado. Somos precursores deste tipo de comportamento transgressor, e por isso adoro Fernandão. Primeiro, foi casado com a mais divina das divinas, Ruth; depois deu a cara à tapa dizendo-se a favor da liberação do uso da maconha (nem sei se concordo com ele, mas amo o ato de conversar sobre), e por fim, colocou o beijo respeitoso da drag no bofe poderoso na pauta do dia. Agora, sinceramente, somos machistas e achamos que homens poderosos podem realizar este tipo de coisa, mas não passa pela nossa cabeça que Dilma possa tascar uma bitoca no Latino ou na Ana Carolina, e acho que se isso acontecesse todo mundo ia cair de pau (ui!) nela. Coragem, presidente, coragem! Nem que seja em Roberto Carlos ou Hebe, mostre que as poderosas também amam.
Pegando carona na polemica sobre o vídeo em que gays se beijam nos pontos turísticos do Rio, e que isto seria chamariz para turismo sexual, ressalto que há uma diferença fundamental entre o vídeo e os postais com bundas no carnaval ou tangas na praia: os gays se estivessem solitários e de sunga, venderiam a imagem de que vem que tem. Do jeito que está posto, é tipo "com seu parceiro, é ótimo e romântico". Vende sensualidade, mas não vende os modelos. Isto posto, há anos vemos turistas gays mais velhos vindo pegar jovens no Brasil. É só freqüentar a Farme, a Bolsa (areia em frente ao Copacabana Palace) ou a Cristaleira (areia de Ipanema, em frente a Farme). Só que muitas estórias são invertidas, e como são boys bacanas, com velhos decrépitos, sempre fica a sensação de que são os garotos que estão se dando bem, que estão ludibriando o velho. De novo, o machismo ao analisar a mesma situação: mulher adolescente é vítima, jovem púbere é algoz. Pensa aí na menina de 15 e no cara da mesma idade. Pois é, sempre achamos que o homem é mais safo.
Por fim, acho um absurdo nenhuma retrospectiva de 2011 ter incluído entre os fatos mais marcantes do ano a morte de Amim Kahder e a revelação devassa de Sandy de que pode-se ter prazer através do sexo anal. Minha gente, isto sim é tsunami: macho e fêmea quebrando paradigmas de vida e morte, certo e errado, quente e frio, largo e apertadinho. Aguardo ansioso pelo dia do fim do mundo no calendário Maia, pois desconfio que tal evento tenha a ver com ele, que foi sem nunca ter sido, e ela, nova estrela do "toco cru pegando fogo", porque se vocês não sabem, a maldição de Montezuma é a diarréia quase mortal que abate visitantes que comem comidas temperadíssimas, na América Central. 





O trágico fim do vigia lança luz sobre uma vida que muitos acreditam desinteressante, e não dotada de sentimentos. Passamos sempre por eles tão apressados, e como já lhes pagamos os salários, não temos ainda que nos preocupar em olhá-los nos olhos. E como a maioría veio de pau de arara lá das bandas de Lula, então está de bom tamanho o emprego, a portaria, o quartinho no condomínio. Porteiros não aman, não sofrem. São aqueles bonecos que ficam atrás das mesas, separando correspondencia, atendendo o interfone e abrindo a porta do elevador. São quase invisìveis, de tão despercebidos. Mas, como basta ser humano para ser um oceano, atravès do disse-me-disse, entrei fascinado no universo carluciano de ser: primeiro, descobri que ele não era porteiro, como sempre o chamei, ("seu Milton, no contra-cheque vem vigia, que fica de noite, quem fica de dia, no contra-cheque vem porteiro"). Fora a titulação, por que Carlucio se matou, se ele estava tão bem? Foi aí que descobri que ele estava bem até que decidiu dar um pulo no interior do Ceará para exibir sua prosperidade e beleza, como pavão na terra natal. Parece, dizem as línguas, que ele não soube chegar, se dizendo carioca e com dinheiro economizado, foi mechendo com mulher casada e coisa e tal. Pois os cabras da cidadezinha de terra batida e mandacarus se reuniram, e deram uma coça no forasteiro, uma surra que de tão forte afundou-lhe o cranio. Voltou abilolado o homem que tinha ido playboy. 
O personagem estava pronto, e náo tinha sido escrito por Glòria Perez. A realidade o pariu de forma contundente, e fê-lo viver o refluxo da ilusão: voltar triunfante. Vaidoso, não aguentou tanto dissabor e voou na noite de Copacabana, para esmigalhar-se contra as pedras portuguesas da calcada da Santa Clara, numa modernísima Morte e vida Severina - a parte que lhe coube deste latifúndio foi tocar nossos coracões com sua trágica estoria. Um réquiem que ele comecou a tecer na noite do reveillon, quando pela primeira vez, abandonou seu posto (do qual tanto se orgulhava) para passar a noite no Pinel.
Morreu de que? Morreu de porteiro! Como Assim? O porteiro caiu bem em cima dele, depois que se jogou do dècimo andar, matando-o. Agora não para de pensar neste tipo de morte, depois que encontrei o corpo de Carlúcio estirado na calcada, no centímetro exato em que passo tres vezes por dia. Vivo olhando para cima, tentando imaginar o que passou-lhe na cabeca, no momento da decisão de saltar. Sonhos, vontades, desejos, expectativas, decisóes, fraquezas, tolices - basta ser humano para ser um universo.


A existência de uma princesa negra no novo filme da Disney só é possível desde que ela tenha este jeito branco de ser das Bioncés da vida: cabelo liso, corpão magro, nariz afilado. Aliás, as negras-negras estão desaparecendo. Só sobraram as Taís Araújos da vida. O nariz de batata e o black não passam nem perto. E tudo isto usado como pretexto para que no filme A Princesa e o Sapo, haja a demonização das máscaras africanas, definitivamente coladas nos diabos do vudu e da mandinga. Sobram rituais com sangue, perfeito para estes tempos que chamam de macumba o espetar de agulhas em crianças. A princesa negra que se preza casa na igreja com anjinhos dourados e seu ritmo está fadado ao exótico. Tá tudo muito bom, mas assistam com um pé atrás esta apologia ao embranquecimento.



"Mas Milton, entre as roupas que você doou para a caridade, têm umas calças Jeans com purpurina e flores de plástico aplicadas!". "E daí, não tem nenhum necessitado com senso de humor, não tem por aí nenhuma bicha que queira arrasar na comunidade?". Tenho enorme dificuldade de doar coisas para os outros, porque ninguém entende meu conceito de vida (entenderam, né?). Agora mesmo recusaram meu refrigerador de marca boa, em bom estado, só porque ele é.... rosa choque. Qual o problema da cor, se ele está tinindo? Aliás, por que toda geladeira tem que ser branca ou de aço escovado? Gente, quem foi que disse isso, quem inventou esta conversa prá boi dormir? Proponho um ano novo em que todas as famílias tenham coragem e pintem seus refrigeradores da cor que quiserem. Sei que alguns vão preferi-lo branquinho como a neve. Mas sei que tem um bando de gente que gostaria de verde ou azul, e que só não pinta por falta de um empurrãozinho. Pois está dado, e é simples: vá até a loja mais próxima, compre spray na cor desejada, afaste-o da parede e pimba, você terá um eletrodoméstico customizado e diferente de toda a humanidade. Não entendo a cara de meu porteiro diante de meu refrigerador Pink. Alguém precisa dizer para ele que o mundo não é como o venderam prá ele.